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Brega até a alma: Janu lança disco repleto de latinidade em “10 Super Sucessos”

Texto: Breno Airan
Fotos: Leandro do Karmo

O brega não tem cor. Tem o cri du coeur.

E esse tal “grito do coração” — em livre tradução do francês — atinge todo mundo, em nossa horizontalidade humana. Mas convenhamos: um grito não precisa ser traduzido.

Como estamos então falando a mesma língua, é perceptível que todo mundo seja brega. Até mesmo quem finge ser autêntico, de maneira inconsciente, segue uma fórmula.

Talvez abraçar o clichê pode ser um modo de estar mais perto do coração das coisas.

E o alagoano Janu não fica só aguardando o vento vir. Rema os nossos sinais e vai logo para a ação.

Por isso, ele está lançando seu mais novo full-lenght: será um trabalho conceitual dividido em outro novo volume — como acontece com o “Lindeza”, que veio às prateleiras em Parte 1 (2015) e Parte 2 (2016).

O que ele coloca agora na mesa, após passar a velha flanela laranja, é um trabalho sólido, com produção e execução consistentes e uma mixagem e masterização dignas de paredão.

Neste dia 31 de maio, véspera do tradicional Mês de São João, ficaremos já com as faixas dos “10 Super Sucessos – Vol. 1”, CD disponível em todas as plataformas e bares digitais. Do Spotify ao Demário.

Brega não dá briga

A união faz a força deste novo álbum do alagoano, natural de Arapiraca-AL, a Capital do Fumo.

Depois de alguns tragos no som, a cada nova audição, vê-se o cuidado em não soar pedante. Aqui é Janu Leite dando de beber. E ajudando com que nos embriaguemos.

Com este estilo musical, não há confusão ou roteiro mirabolante.

Parece haver um véu, que envolve suavemente quem se levanta para a música brega. Um swing, uma desfaçatez, um quadril que naturalmente se mexe.

E mais que isso: dá espaço a outros gêneros que se apresentam no material, que podem ser notados neste novo álbum, a exemplo do piseiro, da moda de viola e da cúmbia. Só para citar alguns.

Todos de mãos dadas neste disco. Que, inclusive, conta com Paulo Franco (da Gato Negro) na produção, mixagem e tocando guitarras; Tiago Luz nos teclados; Noaldo do Acordeon (em “Eu Quero Ser a Razão da Tua Vida”); Fernando Melo nos violões (em “Eu Quero Ser a Razão da Tua Vida” e “Me Ignora”); Almir Medeiros nos arranjos de cordas — violinos, viola de arco e violoncelo (em “Aquela Coisa Massa”); Rodrigo Cruz na bateria; Ricardo Evangelista nas percussões; Marciel Esley nos trompetes e sax; e Vanessa Fernandes (com quem Janu e Gabi Cavalcante estão também fazendo um projeto de cúmbia) nos backing vocals.

A marcante locução que aparece em algumas canções é de Júnior Duarte, que fez vinhetas clássicas de bandas de forró das antigas.

Já a masterização ficou por conta do premiado pelo Grammy Latino, o também alagoano Júnior Evangelista. O design da capa é de Riann e as fotos, de Leandro do Karmo.

Como reforço, Janu puxou mais cadeiras para a mesa, convidando alguns feats para a festa: o argentino Gonzalo Vieira e as alagoanas Llari Gleiss e Vitória Rodrigues, respectivamente, em “Me Ignora”, “Eu Ñ Quero Reggae com Vc” e “Brega Bem Vadio”.

Vitória assina essa faixa com Janu — as restantes são todas composições inteiramente dele. A cantora e atriz está, aliás, atuando na novela global “No Rancho Fundo”, onde sua personagem trabalha em um cabaré.

Alta qualidade

Para Janu, o brega foi sempre renegado, tido como algo de baixa qualidade. Mas hoje vê uma mudança de paradigma acontecendo, ao passo que mais seriedade é levada para o estilo.

“Venho refletindo desde meu álbum anterior, o ‘Miolo do Oxente’, sobre isso do que é pop, do que é popular. Acho que continuei um pouco com essa ‘pesquisa’ no ‘10 Super Sucessos’, tentando desmistificar algumas coisas sobre o brega. O resultado, na verdade, acabou virando um álbum de Música Popular Latino-Americana, com tantos estilos juntos. Em viagens recentes que fiz pelo Chile, Peru e Argentina, pude me emantar nesses sons e nessas realidades do nosso povo. Pude me envolver e escutar muita coisa nova do nosso continente. Isso me propiciou conhecer melhor nossas raízes, me fazendo perceber que o brega pode ser visto, diante vários ângulos, dentro da bachata, bolero, tango e algo da cúmbia”, revela o artista de 35 anos, que deixou neste play o seu baixo, guitarras, synths, teclados, beats e a sua voz.

O ritmo é associado essencialmente ao choro, ao sofrimento ou a ingenuidades. “Apesar disso, eu diria que o blues do Brasil é, na verdade, o samba. Ele saiu das favelas e atingiu a elite musical. O brega ainda não conseguiu essa unanimidade que o samba tem. É algo curioso. Hoje eu, a Marília Mendonça, o Gusttavo Lima, o Pablo, o Felipe Cordeiro, a Banda Sentimentos, a Pablo Vittar, os Los Hermanos em ‘Veja Bem Meu Bem’, esses e muitos outros sabem que brega não é mais sinônimo de cafona: é um exagero dramático com muita qualidade musical. Venho analisando as raízes dele aqui no Brasil. A Wikipédia diz que a música dos anos 1940/50 era pejorativamente brega. Se escutarmos Cauby Peixoto, ngela Maria e Nelson Gonçalves… sem palavras! Arrepia! Mais tarde, surge um Novo Brega por aqui, trazido pela ‘And I Love Her’, dos Beatles. É incrível! E agora estamos aqui. Estou fervilhando nesse assunto”, pontua Janu.

Enquanto está quente, então, ele o traz à mesa. A conta já está paga pela Lindeza Produções.

No cardápio, o volume 1 dos Super Sucessos foi gravado em Arapiraca-AL, Maceió, São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires e em Grötzingen, na Alemanha.

Janu está ganhando o mundo — por isso mesmo, indo para casa.

Janu lança ao público seu mais novo trabalho conceitual com ’10 Super Sucessos’

Confira os 10 Super Sucessos

  1. Encangado
  2. Coruripe
  3. Eu Ñ Quero Reggae com Vc
  4. Eu Quero Ser a Razão da Tua Vida
  5. Me Ignora
  6. Sou Amante, Não Sou Ex
  7. Jasmin
  8. Brega Bem Vadio
  9. Flor do Deserto
  10. Aquela Coisa Massa

Faça download ou escute no site www.januleite.com.br.

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